sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Apresentação de Cynthia Roncaglio

Tento me lembrar. O que despertou a minha curiosidade antes? A imagem ou a informação? Provavelmente as duas coisas ao mesmo tempo. A fotografia, a pintura, o desenho me impressionavam não apenas enquanto arte e técnica de reprodução do real, mas de reinvenção do real. Perceber que o olhar sobre o real fazia toda a diferença na construção da imagem me intrigava.

Aos 14 anos resolvi frequentar um curso de fotografia no Centro de Criatividade da Fundação Cultural de Curitiba. Aprendi a desvendar os princípios básicos da máquina fotográfica e os procedimentos de revelação. Uma das lembranças mais prazerosas que tenho é a de estar sozinha no escurinho do laboratório fotográfico, absorvida pela preparação dos materiais para fazer a revelação em papel, ver a imagem surgir, controlar o tempo de revelação, lavagem, fixação e colocar as fotos para secar. Lá dentro me esquecia do mundo e sentia uma imensa sensação de paz.

Depois disso convivi com vários fotógrafos e acabei casando com um. Foram anos muito bons em que fiquei na frente e atrás das câmeras, participei de muitas sessões de produção de fotos e de encontros informais onde os jovens profissionais apresentavam seus trabalhos uns para os outros e nós discutíamos a luz, a composição, o enquadramento, a perspectiva, a imaginação...

Assim como a fotografia, o cinema exercia o mesmo fascínio sobre mim. Assistia a muitos filmes, inclusive impróprios para a minha idade, na época em que vigorava a censura no país. Como era alta e parecia mais velha nem precisava me maquiar e usar saltos altos para burlar a entrada. Gostava de filmes complexos e dramáticos. Assisti a quase todos de Bergman, Bertolucci, Fellini e Godard; sem pipoca e coca-cola, é claro!

O ingresso no Curso de História da Universidade Federal do Paraná, em 1984, ampliou minha visão de mundo e, consequentemente, do meu mundo. Aprendi a fazer outras “leituras” das imagens e a memória passou a ser um tema recorrente de estudo. Isso ocorreu pela natureza do curso, mas também porque me envolvi num projeto de pesquisa do Curso de Antropologia intitulado Memória Indígena do Paraná. Passei então a estudar também Antropologia, História Oral e Sociologia. Foi um tempo de leituras sistemáticas de Jacques Le Goff, Pierre Nora, Paul Veyne, Henri Bergson e Maurice Halbwachs pelas mãos de Ecléa Bosi, Jan Vancina, Claude Lévi-Strauss, Roberto Cardoso de Oliveira, Roberto Da Matta e tantos outros. Trabalhei em vários projetos relacionados com o tema da memória. Alguns foram concluídos, outros não. Preparei junto com uma amiga do projeto Memória Indígena um livro de Antropologia Visual, a partir de fotografias que fizemos durante a pesquisa de campo em reservas indígenas, que não foi apoiado para publicação na época e lamento até hoje isso não ter ocorrido.

Finalmente, já formada e fazendo o Mestrado em História mergulhei na Arquivologia, passando de pesquisadora a militante da preservação e do acesso aos arquivos. E mais uma vez minha visão de mundo se ampliou, ou se aprofundou, e assim como me fez revisitar temas e autores, exigiu-me descobrir outros temas e outros autores.

Trabalhei doze anos em instituições arquivísticas do Paraná e fiz Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde desenvolvi uma tese sobre a constituição do patrimônio natural no Brasil. Em 2006 ingressei na UnB como docente. Troquei a chuvosa Curitiba pela seca Brasília e graças a isso conheci a querida Miriam que me convidou a participar deste grupo que tenho certeza trará muitas contribuições para a minha aprendizagem.

Abraços,
Cynthia

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