sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Notas para o Grupo de Pesquisa Imagem, Memória e Informação


Paris, 18 de setembro de 2008.
Notas para o Grupo de Pesquisa Imagem, Memória e Informação
Georgete Medleg Rodrigues

Foto de guerra
Françoise Demulder, fotógrafa francesa e primeira mulher a ganhar o prêmio Word Press em 1976, faleceu no último dia 3, em Paris. O reconhecimento da obra de Demulder deveu-se à sua foto mais famosa, tirada em janeiro daquele ano. A trajetória de Françoise Demulder é curiosa. Inicialmente modelo, ela foi ao Vietnã em 1970, acompanhando seu companheiro, ele sim fotógrafo e comentarista. Foi essa viagem que determinou sua carreira como repórter fotográfica. Aliás, ela foi a única a imortalizar as imagens no instante em que os tanques dos vietcongues entraram em Saigon, em 30 de abril de 1975. Segundo o jornal Le Monde (06/09/2008), Demulder representa, “juntamente com Catherine Leroy e Christine Spengler, a face feminina do fotojornalismo francês”. Abandonando as guerras, ela, apaixonada pelos animais, foi para a Antártica fotografar... pingüins.
A foto
Era 18 de janeiro de 1976, em Beirute, guerra do Líbano. A foto, em P&B, foi obtida no momento em que os falangistas cristãos estavam arrasando o bairro palestino da “Quarantaine” na capital libanesa. Enquanto os palestinos tentavam escapar ao massacre, Françoise Demulder fez a famosa fotografia em que uma palestina é retratada no momento em que implora a um soldado falangista, encapuzado e armado de um fuzil. Entretanto, a foto não foi assimilada de imediato.
A imagem congelada por Demulder foi considerada “complexa” porque oferece inúmeros planos de leitura e, nesse sentido, recusada pela importante agência Gamma de Paris. A referência à complexidade da foto nos remete à tarefa – também complexa – de indexação de uma imagem, daí o interesse em tentar “descrevê-la”, bem no contexto das abordagens do Grupo de Pesquisa IMI. Talvez pudéssemos falar das várias “camadas” ou “planos” da foto. Ao fundo, muita fumaça emergindo dos escombros do que foram antigas residências recém-bombardeadas. Em segundo plano, uma mãe/mulher correndo, segurando um bebê/filho e um homem/pai segurando pela mão duas crianças. No primeiro plano, uma palestina, os dois braços estendidos, como a implorar piedade ao miliciano falangista (o uniforme indica essa posição) cristão encapuzado, segurando um fuzil. Posteriormente, numa entrevista à série de TV “As cem fotos do século”, veiculada de 1998 a 2000, no canal de TV franco-alemão Arte, a fotógrafa disse ter informações segundo as quais, dos personagens da foto, somente a mãe e seu bebê (agora, sabemos, com certeza que a mulher carregando o bebê era “mãe”) sobreviveram. O miliciano matou-se fazendo roleta russa.
Podemos inferir, portanto, que a descrição dessa foto seria mais completa com as informações fornecidas pela própria autora da imagem. O que nem sempre é possível.

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